Sofia Bica
Onde Você se Perdeu? Série: Restaurando a Identidade - parte 1

Quando nosso interior fica cheio de perguntas e nenhuma resposta, do tipo: quem sou, o que gosto, como vim parar neste ponto?
O que fazia sentido já não faz mais.
Você se pergunta... Quando foi que eu me perdi, quando foi a última vez que fui eu mesma?
Ouvimos muitos conselhos que dizem: seja você mesma, seja original, ame quem você é.
Mas como me amar ou ser original, se nem aí menos sei quem sou e qual minha verdadeira identidade?
Quando nos sentimos perdidas desta maneira é porque estamos andando a muito tempo na direção errada, ou apenas do jeito errado.
A medida em que damos passos, perdemos partes de quem somos sem perceber.
Eu me senti exatamente assim no ano de 2022. Percebi que estava perdida, sem propósito. Sem saber pra onde ir, tudo parecia completamente sem sentido.
Não foi um momento específico ou uma tragédia que me desestabilizou. Foram construções tortas que me roubaram de mim. Na época eu não sabia sobre isso, só iria descobrir mais tarde.
Qual sua cor favorita? Que comida você mais gosta? Que lugares quer conhecer? O que mais te deixa feliz? Quem é você?
São perguntas bem simples e boa parte das pessoas conseguem responder sem muita dificuldade.
Ainda sinto dor ao lembrar que a cerca de um ano atrás eu não conseguia responder a nenhuma delas.
Nesse tempo eu vivi um dos piores momentos da minha vida, estava completamente destruída.
Me sentia sem vida, sem cor, perdida. Sem saber quem eu era, para que vivia. Tudo o que um dia teve brilho pra mim, agora era um grande vazio.
A depressão
De 2019 a 2022 eu tive depressão. Minha crença era de que esse período de tristeza profunda veio devido a uma soma de fatos que causaram grande desconforto para mim.
Um deles, a gravidez não planejada do meu filho mais novo. Outro fato intenso foi a pandemia do COVID.
Entretanto, para minha surpresa, quando Deus começou meu processo de restauração, fui percebendo que a depressão não surgiu de repente, ela foi construída aos poucos nas minhas emoções.
Cada vez que eu deixava partes minhas pelo caminho e que feria minha essência tentando ser como outras pessoas. Quando tentava me encaixar, agradar.
Em meio a altos e baixos, por muitos momentos eu tentei achar o erro. Queria entender o porquê me sentia tão mal, e como poderia melhorar.
Eu me perguntava: O que há de errado comigo? Sou tão ingrata. Moro numa boa casa, tenho o que preciso, temos saúde, pessoas que nos amam, um marido que faz de tudo por mim. Porque estou tão triste?
Porque penso que morrer seria um alívio? Porque sinto tanta dor, porque esse buraco negro está consumindo minha alma?
Além da tristeza, desânimo, cansaço, insônia (só conseguia dormir quando o sol nascia) viver a depressão feriu em níveis diferentes minha família.
O foco da minha visão estava desajustado. Pois, não foi um acontecimento único que fez eu me perder tanto, mas sim, a soma de diversas quebras e dores que vivi ao longo da minha jornada.
A cura
A cura da depressão veio quando eu menos imaginei, foi na verdade no pior momento. Na pior crise, quando eu realmente pensei: Isso com certeza será o meu fim.
No momento de maior quebra que vivi. Deus disse: Esse é teu lugar de descanso.
Essa frase me curou. Não teve queimação, nem arrepio, nem vento impetuoso, ninguém veio orar por mim. Mas, Ele veio e reajustou minha visão.
Foi de fato, um período de desafios, mas de descanso. Nunca fui tão pobre e ao mesmo tempo tão rica.
Deus se revelou de uma maneira nova para mim, no momento mais improvável da minha história até então.
Eu que há anos me sentia cada vez mais perdida e sem destino, fui realinhada por Deus. Reconectada com os propósitos mais simples de uma mulher: glorificar a Deus, ser uma esposa e mãe que serve com amor e de todo o coração.
A partir daí o Senhor disse: Vamos voltar pelo caminho e encontrar onde você se perdeu.
Voltando pelo caminho
Mais tarde pude aprender que voltar a origem é a solução para encontrar o que perdemos no caminho.
Você já deve ter feito isso. Saiu com alguma coisa na mão e perdeu no caminho, então você vai voltando pelo mesmo trajeto, devagar, olhando atenta para encontrar o item perdido, não é mesmo?
A proposta de Deus para mim, foi exatamente essa. Fui voltando pelo caminho, olhando as estações onde estive anteriormente.
Foi doloroso, pois encontrei uma mulher insegura e que não fazia ideia do tesouro que havia dentro de si. Ela admirava pessoas, e trocava seus tesouros por tentativas de se parecer mais com quem ela admirava.
Essa mulher também jogou fora partes de si mesma. Em momentos difíceis, ela ficava amarga e dizia: Não preciso mais de doçura. Então pegou sua doçura e jogou fora.
Em momentos de cuidado intenso dos filhos, ela disse: Sempre amei cuidar de mim, da minha aparência, me vestir bem. Mas não preciso mais disso e jogou fora também.
Quando suas espectativas foram frustradas, ela disse: Não terei mais esperança, pois posso ser frustrada novamente. E jogou fora a esperança.
Ainda, teve muito mais coisas que foram jogadas fora, outras perdidas enquanto estava destraida.
Mas fui encontrando essas partes pelo caminho e o Conselheiro dizia: Pega de volta, ainda é seu.
Onde me perdi, não foi em um ponto específico. Me perdi no caminho. Todas as vezes que como Esaú, troquei o que tinha de mais precioso por um prato de lentilhas.